Violência contra idosos: identifique os sinais e perceba como ajudar
A violência violência contra idosos é um verdadeiro drama nas sociedade atuais. Saiba o que pode fazer para ajudar.
Escrito por: Stannah
Atualmente, a violência contra pessoas idosas é um verdadeiro drama social que se verifica em diferentes países, independentemente do seu nível de desenvolvimento.
Este tipo de violência assume muitas vezes a forma de abusos psicológicos, financeiros ou físicos e pode acontecer nos mais diversos ambientes, seja casa dos próprios idosos, na casa de familiares, ou até mesmo em lares.
Este é um problema social grave que afeta milhões de idosos em todo o mundo. É crime tão grave quanto silenciado e por isso, hoje, no Dia Internacional da Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra Pessoas Idosas, este tema merece não só a nossa atenção, mas um apelo sentido para que tomemos todos consciência da sua imensa gravidade e consequências que pode deixar nas vítimas.
Índice
- Tipos de violência contra as pessoas idosas
- Reconhecer os sinais de alerta de maus tratos à pessoa idosa
- Direitos do Idoso
- Proteção do idoso: saiba como ajudar
- Violência contra idosos em Portugal
- Esperança num futuro melhor
Tipos de violência contra os idosos
A violência pode surgir de diversas formas e pode acontecer várias vezes. No caso particular dos mais idosos, e devido à sua vulnerabilidade, estes tornam-se menos capazes de lutar contra possíveis atos de violência e maus tratos, tornando-se, assim, um alvo para a prática deste crime.
Na maior parte dos casos, a pessoa idosa remete-se também ao silêncio, por medo e/ou vergonha, vivendo anos em sofrimento sem nunca denunciar o abuso e a violência.
Existem inúmeras razões pelas quais uma vítima não denuncia os abusos que sofre, como por exemplo:
- Não reconhecer que está a ser negligenciado e vítima de violência;
- Sofrer de perda de memória ou demência;
- Não reconhecer os seus direitos e saber que tais práticas de violência, inclusive a psicológica, são crime;
- Vive isolado e sem contacto com outras pessoas que possam ajudar e intervir, denunciando a situação;
- Receia de denunciar os maus tratos e vir a sofrer represálias por parte do agressor, caso as autoridades competentes falhem na sua proteção;
A violência contra idosos pode, assim, assumir várias formas e implicar a prática de diferentes crimes. Destacamos alguns:
- Violência física: qualquer ato que resulte na agressão física é considerado violência física. Para além dos crimes de ofensa à integridade física e/ou maus tratos físicos, é considerado violência física o sequestro ou intervenções/tratamentos médicos arbitrários.
- Violência psicológica: entende-se por violência psicológica qualquer comportamento, verbal ou não verbal, que cujo propósito é causar dor, medo, desespero, recorrendo a insultos, ameaças, humilhação, intimidação, isolamento social, proibição de realizar atividades como sair de casa e conversar com outras pessoas.
- Violência sexual: é um tipo de violência na qual o agressor abusa do poder que tem sobre a vítima para obter gratificação sexual, sem o seu consentimento, sendo a vítima induzida ou obrigada a práticas sexuais com ou sem violência. Para além das práticas sexuais, é também considerado violência sexual quando o agressor obriga a pessoa idosa a assistir a pornografia, a presenciar atos sexuais ou a despir-se sem o consentimento da mesma.
- Negligência e abandono: A negligencia ou abandono do idoso – ato de omissão de auxílio do responsável pela pessoa idosa em providenciar as necessidades básicas, necessárias à sua sobrevivência – constitui uma grande parte dos crimes contra os idosos denunciados.
- Violência financeira: este tipo de violência centra-se na prática de qualquer exercício que visa a apropriação ilícita do património de uma pessoa idosa, seja esta realizada por familiares, profissionais cuidadores ou meros conhecidos.
Reconhecer os sinais de alerta de maus tratos à pessoa idosa
Conhecer os sinais de alerta de violência contra idosos não é tão fácil quanto pode parecer.
Ao notar sinais estranhos no idoso, há quem possa associar estes sinais a possíveis doenças da terceira idade ou até mesmo à fragilidade da pessoa idosa. Outras vezes, as justificações do agressor são altamente convincentes, alegando que jamais seriam capazes de atentar contra a integridade física ou psicológica do idoso.
Este tipo de argumento é frequentemente usado por agressores que são também familiares da vítima, como filhos, netos, sobrinhos. No entanto, existem alguns sinais a que todos devemos estar atentos como:
Sinais de violência física:
- Lesões sem explicação como feridas, nódoas negras ou cicatrizes recentes
- Fraturas ósseas
- Armações de óculos partidas
- Marcas que evidenciam o ato de ser amarrado, por exemplo, marcas nos pulsos
Sinais de violência psicológica:
- O idoso encontra-se emocionalmente perturbado
- Medo de estar na presença de outras pessoas
- Receio de falar
- Depressão
- Recusar participar nas atividades diárias sem explicação
- Depreciação do seu bem-estar e baixa autoestima
Sinais de violência sexual:
- Nódoas negras nos seios ou genitais
- Doenças venéreas ou infeções genitais inesperadas;
- Hemorragia genital ou anal sem explicação;
- Roupa interior rasgada, manchada ou com sangue.
Sinais de negligência ou abandono:
- Perda de peso, má nutrição, desidratação;
- Falta de condições de higiene, como encontrar-se sujo ou sem banho tomado;
- Roupa ou agasalhos inadequados para a estação do ano;
- Falta de condições de segurança em casa (falta de aquecimento, infiltrações, etc.);
- Desaparecimento do idoso em local público.
Sinais de violência financeira/económica:
- Tomar decisões abruptas sobre o próprio património;
- Levantamentos bancários significativos da conta da pessoa idosa;
- Mudanças suspeitas de beneficiários de testamentos, seguros ou de bens;
Direitos do Idoso
Independentemente da idade e/ou da situação de dependência, os idosos têm obviamente os mesmos direitos que outra pessoa.
As pessoas idosas são cidadãs com plena capacidade para reger a sua pessoa e os seus bens de forma livre e autónoma. Em qualquer circunstância, deve ser respeitada a sua autonomia na gestão da sua vida e património não permitindo que, seja quem for, o substitua sem que lhe sejam autorizados poderes legais.
De acordo com a legislação portuguesa para o idoso, mais precisamente o Artigo 72.º da Constituição da República Portuguesa:
- As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social;
- A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural, tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal, através de uma participação ativa na vida da comunidade.
Em 16 de dezembro de 1992, a ONU também criou os “Princípios das Nações Unidas para o Idoso“, através da Resolução 46/91 aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas. Neste documento são definidos os seguintes princípios: independência, participação, assistência, autorealização e dignidade.
Proteção do idoso: saiba como ajudar
A ajuda inicial de um amigo ou de um familiar pode ser crucial para que a pessoa idosa fale e peça ajuda para tentar sair da situação de violência em que vive e com que tem de lidar sozinha.
O silêncio perpetua a violência, por isso, é precisar falar e incentivar os idosos a falar num ambiente em que se sintam seguros e protegidos. Se em algum momento notar que um idoso que conhece poderá estar a ser vítima de violência e maus trados, aconselha-se a que:
- Tente aproximar-se do idoso e conversar com cuidado para não ferir suscetibilidades.
- Caso o idoso assuma que é vítima de violência, transmita a uma mensagem de apoio e, acima de tudo, faça tudo o que for preciso para apoiá-lo a sair desta situação, denunciando a situação às autoridades policiais ou aos serviços do Ministério Público;
- Ajude a pessoa idosa a entrar em contacto com a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) para iniciar um processo de apoio jurídico, psicológico e social.
- Seja muito discreto/a e aja sempre com prudência.
- Nunca exponha a vida da pessoa à curiosidade alheia ou em situações em que esta não se sinta confortável.
- Respeite a sua liberdade e decisões, reforçando a confiança na capacidade de gerir a sua própria vida.
Qualquer pessoa, pode denunciar junto das entidades competentes uma situação de violência. No entanto, é importante reforçar ideia de que uma acusação de violência é algo extremamente grave e não deve ser feita de ânimo leve. Deixamos-lhe aqui alguns contactos que podem ser úteis:
Contactos úteis de Apoio à vitima idosa
- Associação Portuguesa de Apoio à Vitima: 707 200 077
- Linha Nacional de Emergência Social: 144
- Linha do Cidadão Idoso da Provedoria de Justiça: 800 203 531
- Guarda Nacional Republicana: Contacte o Posto da área da sua residência.
Violência contra idosos em Portugal
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Portugal é um dos países com maior taxa de violência contra idosos. Este é um grave problema social, apenas reconhecido como tal há cerca de 3 décadas, com prejuízos para as vítimas, as famílias e a sociedade em geral.
De acordo com o último estudo realizado pela APAV, entre 2013 e 2015, foram registados um total de 3,214 processos de apoio a pessoas idosas, em que 2,603 foram vítimas de crime e de violência.
Desse mesmo estudo, conclui-se ainda que cerca de 26% das pessoas idosos vítimas de crime e de violência tinham entre 65 a 69 anos, sendo 44,1% eram casadas e 32,8% pertenciam a um tipo de família nuclear com filhos.
O número de autores do crime ultrapassou o número de vítimas, ascendendo aos 2,730 e, em mais de 65% das situações, o autor do crime é do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 65 e os 74 anos de idade.
Esperança num futuro melhor
A violência contra idosos é fenómeno trágico e cada vez mais preocupante nas sociedades atuais. É preciso chamar a atenção da sociedade civil e, sempre que possível, trazer o assunto para a ordem do dia. Apenas falando e consciencializando as pessoas para este problema, poderemos começar a atenuar a dor atroz em que muitos idosos vivem.
É preciso falar às famílias e principalmente aos mais novos, começar desde cedo a ensinar os mais pequenos de que a violência, seja contra quem for, nunca será a solução de nada. No caso da violência contra os idosos, é preciso ajudar os jovens a construir laços de respeito mútuo, cordialidade e carinho com as gerações mais velhas, assim como é importante ajudar os mais velhos a abrirem-se ao mundo dos jovens e a deixarem-se envolver pela sua jovialidade e novas formas de olhar o mundo.
É preciso aprender a construir pontes de diálogo entre as diferentes gerações, porque só daí poderá nascer o respeito, a compreensão mútua e o fim da violência sobre os mais frágeis.