Reformei-me. E agora? O "Exótico Hotel Marigold" mostra-nos uma perspetiva diferente de ocupar o tempo livre
“O Exótico Hotel Marigold” revela o mar de possibilidades que a vida oferece, independente das nossas idades!
Escrito por: Stannah
À medida que envelhecemos, o nosso corpo começa a sofrer alterações. A nossa pele começa a ganhar rugas, o cabelo a ficar cinza, entre outras mudanças. Mas, na realidade, não somos as mesmas pessoas que sempre fomos? Até certo ponto, sim, mas a idade e, mais importante, a experiência estão fadadas a mudar-nos de maneiras que nunca poderíamos imaginar. E é aí que está a beleza da situação, nunca terminamos de mudar e evoluir – não importa quanta experiência tenhamos, a vida está sempre repleta de possibilidades!
E quão bonito isto é? Quão delicioso é saber que é sempre possível reinventar-nos ou, pelo menos, tentarmos ser as melhores versões de nós mesmos? Quão chata seria a vida se perdêssemos a capacidade de explorar novos horizontes, aprender coisas novas, ter empatia e compreender diferentes perspetivas? É assim que o filme “O Exótico Hotel Marigold” é :
“Uma rara lembrança de que as grandes emoções não são apenas para jovens ou para pessoas na meia-idade”
Mick LaSalle, crítico de cinema
É um filme em que a comédia e o drama andam de mãos dadas para dar-nos um vislumbre das lutas de envelhecer. Todos queremos envelhecer sem perder a graça e a vitalidade, mas todos sabemos que não é assim tão fácil e que um futuro brilhante só é possível se mantivermos um certo nível de abertura à novidade e uma vontade de deixar as nossas zonas de conforto. Ficou curioso? Leia mais para perceber do que estamos a falar.
A premissa – nunca é tarde demais para mudar!
O enredo – Nunca pare de se reinventar
O cenário – Prepare-se para um confronto cultural!
As personagens – envelhecer fora da zona de conforto
Celebre as mudanças … e as diferenças!
A premissa – nunca é tarde demais para mudar!
“O Exótico Hotel Marigold”, lançado em 2012, é um filme que conta a história de um grupo de reformados britânicos que se mudam para um hotel de reformados ( menos caro e aparentemente exótico) na Índia, dirigido por um jovem personagem chamada Sonny (Dev Patel), que está sempre ansioso para agradar.
Baseado no romance “These Foolish Things” (2004), de Deborah Moggach, é uma comédia romântica com personagens dos anos 60 e 70. O filme é composto pelas histórias de sete diferentes personagens, embora compartilhem uma perceção comum e fundamental: nunca é tarde demais para abraçar uma nova jornada e explorar um novo caminho da vida. Quando nos encontramos pela primeira vez com estas tão distintas personagens, a ideia que nos transmitem é que já não existem novas oportunidades nas suas vidas. No entanto, eles não dececionam os espectadores, pelo contrário, surpreendem-nos. Na verdade, o diretor do filme até diz que:
“O argumento é engraçado, rico, mas não se trata apenas de uma comédia ” (…) “É também sobre luto, solidão, isolamento e confronta a questão do que é realmente possível à medida que envelhecemos. É possível começar de novo, independente da idade? “Nunca é tarde para mudar?
John Madden, Diretor
Após o grande sucesso deste filme, surge a sua continuação “O Segundo Exótico Hotel Marigold”, lançada em 2015. Mas qual é o segredo por trás deste sucesso? Para começar, o elenco – um grupo de atores brilhantes. Depois, o argumento, pois, prova que abordar assuntos em torno do tema envelhecimento não se limita a falar de morte ou doença – pelo contrário, é tudo sobre a vida!
A história – um entrelaçar de aventuras imprevisíveis!
John Madden, o diretor, apaixonou-se pela história principalmente pela idade das sete personagens: na faixa dos 60 e 70 anos. Todos escolhem o Marigold Hotel devido ao orçamento apertado enquanto reformados: são obrigados a escolher um outro país que lhe proporciona melhor qualidade de vida, por uma fração do preço. Mas nada é tão fácil quanto parece. Para algumas personagens, viver num país como a Índia é causa de enorme drama e, como o filme pautado de momentos inesperados, assistimos a aventuras cómicas e imprevistas. No entanto, a luta é real! As personagens seniores emergem num “mundo estranho, afastado da sua antiga realidade, isolado do passado, onde têm que inventar uma nova vida para si mesmos”, como explica John Madden:
“A parte maravilhosa é quando achamos que as personagens estão a passar por um período das suas vidas menos agradáveis, um novo capítulo inicia-se com uma explosão literal de cor e brilho, uma oportunidade de se reinventar.”
John Madden, Diretor
Não queremos ser spoilers (estraga prazeres), mas o que podemos dizer é que o processo de reinvenção pelo qual os personagens passam torna-se visível à medida que observamos a aproximação das personagens- amizades, casamentos, ligações, rivalidades e tudo mais. Tudo é desconstruído de uma maneira muito cómica que obriga cada um deles a avançar.
O cenário – Prepare-se para um confronto cultural!
“O Exótico Hotel Marigold” é um destino na Índia para reformados, vendido como um destino luxuoso que oferece o melhor a quem lá pretende hospedar-se. Uma ideia de luxo e conforto que se desvanece no momento em que as 7 personagens chegam à Índia, mais precisamente ao hotel. O que outrora era um hotel de luxo é, agora, um hotel degradado, com poucas condições.
O filme é visualmente suntuoso e as cores são tão vibrantes quanto você esperaria que fossem para um filme filmado na Índia. Os costumes locais são absolutamente intrigantes, para não mencionar a trilha sonora cativante. No entanto, o que nossos personagens conseguem ouvir, a princípio, é a dissonância causada por vozes e tráfego. Não é fácil descobrir onde encontrar a melodia e a beleza que eles procuraram. No entanto, o maior desafio é deixar de lado os preconceitos preparar-se para mergulhar no desconhecido.
Jean Ainslie: Como é que consegue suportar este país? O que é que vê que eu não consigo ver?
Graham Dashwood: A luz, as cores, os sorrisos… isso ensina-me muito coisa.
As personagens – envelhecer fora da zona de conforto
Nesta história, as definições de idade e maturidade são completamente deixadas de lado à medida que os personagens se reinventam. No entanto, a história começa retratando-os como estereótipos muito redutivos de homens e mulheres velhos e rabugentos, que viajam para uma cidade na Índia simplesmente por causa do baixo custo de vida local que pode tornar a sua reforma mais luxuosa e confortável: nada mais que um cliché. Mas o que acabam por encontrar neste cenário tão exótico é muito mais do que o esperado. Encontram um universo alternativo que os transformará em seres humanos mais complexos do que jamais suspeitaríamos. Um caldeirão de experiências humanas: várias pessoas de diferentes lugares que acabam por encontrarem-se nesta aventura impactante.
Evelyn – a pessoa mais maravilhosamente empática
“Mas talvez o que tememos é que seja o mesmo, por isso devemos celebrar as mudanças porque, como alguém uma vez disse, tudo vai ficar bem no final…e se não estiver tudo certo, então confie em mim … “
Evelyn Greenslade, personagem principal
A personagem principal, Evelyn Greenslade (Judi Dench) narra toda a história. Fora do comum, aprende sozinha a usar um computador e cria um blog online onde publica as aventuras. Na boa verdade, as publicações no blog servem como uma espécie de linha do tempo do filme. É uma personagem muito empática, o que significa que ela pode absorver o choque cultural de uma forma positiva e tentar passar isso para os outros.
Depois do choque cultural, as personagens vão transformar-se, num sentido muito positivo e para sempre. Descobrem que a vida e o amor podem recomeçar, para tal basta abandonar o passado.
Muriel – a personagem que nunca sai da zona de conforto
Alguns dos personagens são relacionáveis (pelo menos para nós), outros menos. As personagens antagônicas naturalmente afetarão a velocidade com que as maravilhas da Índia se abrirão para a mudança. Por exemplo, a personagem de Maggie Smith – Muriel Donnelly. É retratada como “instintivamente xenofóbica e nunca sai da sua zona de conforto”. Uma das frases que descreve essa situação:
“Não…se eu não consigo pronunciar o nome da comida, não quero comer.”
Muriel Donnelly
Celebre as mudanças … e as diferenças!
Como é habitual, o livro que deu mote à realização do filme entra em muito mais detalhe quando se trata da personalidade e da história de fundo de cada personagem. Mesmo assim, o filme definitivamente faz justiça ao livro, pois permite perceber que o envelhecimento não tira a beleza e a profundidade da humanidade de cada pessoa.
Não significa que alcançou um patamar onde não é mais possível crescer. O filme ajuda a desconstruir esse equívoco, mas também ajuda a destacar a forma como os idosos são percebidos e tratados nas culturas ocidentais. Na verdade, a decisão de se mudar para longe de suas casas para uma cultura muito diferente não foi feita do nada. A maioria deles mudou-se porque tinham pouco dinheiro e precisavam de viver num lugar onde as suas economias durassem mais tempo. No entanto, o baixo custo de vida na Índia não foi a única motivação. Na cultura indiana, muito parecida com a cultura japonesa, os idosos são valorizados e até mesmo reverenciados.
E é isso que esta história nos ensina: podemos sentir que a juventude evapora quando olhamos no espelho e tentamos evitar reconhecer as mudanças que acontecem no nosso corpo, mas quando alcançamos esta bonita idade, a experiência e conhecimento tornam-se uma fonte de força. Muitas vezes, o que desencadeia esta nova mentalidade é poder aceitar e celebrar as mudanças, sendo capaz de lidar com as diferenças!